24/10/2023 - Notícia - Câmara
deve votar taxação para super-ricos nesta semana
Proposta tranca pauta de votações desde último
dia 14
Com a previsão de arrecadar R$ 20 bilhões em
2024, e até R$ 54 bilhões até 2026, a taxação dos investimentos da parcela mais
rica da população deverá ser votada nesta terça-feira (24) na Câmara dos
Deputados. Desde o último dia 14, o projeto de lei em regime de urgência tranca
a pauta na Casa.
O relator da proposta, deputado Pedro Paulo
(PSD-RJ), tenta fechar um acordo com a bancada ruralista sobre o aumento no
número de cotistas nos Fiagros, fundos de investimento em cadeias
agroindustriais. O parlamentar estava ainda definindo como ocorrerá o
parcelamento do Imposto de Renda sobre fundos exclusivos e uma eventual
equiparação de alíquotas entre esses fundos e as offshores (investimentos em
empresas no exterior).
Pedro Paulo também tentou incluir uma solução
intermediária para o fim dos juros sobre capital próprio (JCP), proposto por
outra medida provisória. No entanto, a proposta não prosperou por falta de
acordo no Parlamento.
O governo queria ter votado o texto na semana
passada. No entanto, três partidos - PL, PP e União Brasil - pediram a
manutenção do acordo para votação no dia 24, após o retorno do presidente da
Câmara, Arthur Lira, de uma viagem oficial à China e à Índia.
Originalmente, o projeto de lei tratava apenas
da taxação das offshores. No entanto, Lira incorporou ao texto uma medida
provisória editada no fim de agosto, e ainda em validade, que muda a tributação
de Imposto de Renda em fundos exclusivos. O procedimento é igual ao que ocorreu
com a medida provisória do Programa Desenrola, apensada ao projeto de lei que
regulamenta a taxa do rotativo do cartão de crédito, aprovado no início do mês.
Reforço de caixa
O governo precisa reforçar o caixa para
compensar o aumento do limite de isenção da tabela do Imposto de Renda,
sancionada nesta segunda-feira (28) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O dinheiro também é importante para cumprir a meta de zerar o déficit primário
em 2024, conforme estipulado pelo novo arcabouço fiscal, aprovado no fim de
agosto pelo Congresso.
Instrumentos personalizados de investimentos,
com um único cotista, os fundos exclusivos exigem pelo menos R$ 10 milhões de
entrada e taxa de manutenção de R$ 150 mil por ano. Hoje apenas 2,5 mil
brasileiros aplicam nesses fundos, que acumulam patrimônio de R$ 756,8 bilhões
e respondem por 12,3% da indústria de fundos no país.
Atualmente, os fundos exclusivos pagam Imposto
de Renda (IR), mas apenas no momento do resgate e com tabela regressiva -
quanto mais tempo de aplicação, menor o imposto. O governo quer igualar os
fundos exclusivos aos demais fundos de investimento, com cobrança semestral de
IR, conhecida como come-cotas. Além disso, quem antecipar o pagamento do
imposto pegará alíquotas mais baixas.
Quanto à taxação das offshores, o governo quer
instituir a tributação de trusts, instrumentos pelos quais os investidores
entregam os bens para terceiros administrarem. Atualmente, os recursos no
exterior são tributados apenas e se o capital retorna ao Brasil. O governo
estima em pouco mais de R$ 1 trilhão (pouco mais de US$ 200 bilhões) o valor
aplicado por pessoas físicas no exterior.
Confira as propostas do relator
Fundos exclusivos
• Instrumento: originalmente era medida
provisória, mas texto foi incorporado a projeto de lei;
• Como é: tributação apenas no momento do
resgate do investimento;
• Tributação: alíquota de 15% (fundos de curto
prazo) ou de 22,5% (fundos de longo prazo) de Imposto de Renda sobre os
rendimentos uma vez a cada semestre por meio do mecanismo chamado come-cotas a
partir do ano que vem. Fundos com maiores prazos de aplicação têm alíquotas
mais baixas por causa da tabela regressiva de Imposto de Renda;
• Atualização antecipada: quem optar por começar
a quitar o come-cotas em 2023 pagará 6% sobre o estoque dos rendimentos (tudo o
que rendeu até 2023). O governo propôs dois modelos de pagamento
- 6% para quem parcelar em quatro vezes, com a
primeira prestação a partir de dezembro. Na medida provisória, o governo tinha
proposto alíquota de 10% nessa situação;
- 15% para quem parcelar em 24 vezes (dois
anos), com primeira prestação a partir de maio de 2024.
Offshore e trusts
• Instrumento: projeto de lei;
• Como é: recursos investidos em offshores,
empresas no exterior que abrigam fundos de investimentos, só pagam 15% de
Imposto de Renda sobre ganho de capital se voltarem ao Brasil;
• Tributação: cobrança anual de rendimentos a
partir de 2024, com alíquotas progressivas de 0% a 22,5%, mesmo se dinheiro
ficar no exterior. Cobrança ocorrerá da seguinte forma
- isenção sobre parcela anual dos rendimentos
até R$ 6 mil;
- 15% sobre parcela anual dos rendimentos entre
R$ 6.000,01 e R$ 50 mil;
- 22,5% sobre parcela anual dos rendimentos
acima de R$ 50 mil.
• Apuração: lucros das offshores serão apurados
até 31 de dezembro de cada ano
• Forma de cobrança: tributação dos trusts,
relação jurídica em que dono do patrimônio transfere bens para terceiros
administrarem.
• Como funcionam os trusts: atualmente,
legislação brasileira não trata dessa modalidade de investimento, usada para
reduzir o pagamento de tributos por meio de elisão fiscal (brechas na
legislação) e facilitar distribuição de heranças em vida;
• Variação cambial: lucro com alta do dólar não
será tributado em duas situações
- variação cambial de depósitos em conta
corrente ou em cartão de crédito ou débito no exterior, desde que os depósitos
não sejam remunerados;
- variação cambial de moeda estrangeira para
vendas de moeda de até US$ 5 mil por ano.
Fonte: Agência Brasil - Publicada em 22.10.2023
(https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-10/camara-deve-votar-taxacao-para-super-ricos-nesta-semana)